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A você que um dia chamei de filha

Existem dores que sentimos ao longo da nossa jornada que são abafadas ao acaso, seja por entender que não vale a pena se indispor, por medo, por covardia, por amor, por respeito ou simplesmente porque naquele momento compreendeu que era uma mera coadjuvante na história e não seria afetada com seu enredo e final.



Ledo engano!


Seja qual for o caso, a dor foi sentida, ela está lá, escondida em algum lugar.


Ficar triste de vez em quando é normal. Permanecer triste não é.


O medo, a apreensão e o sofrimento emocional podem causar danos em sua integridade física e mental.


Tudo começou quando fui informada sobre o casamento do meu filho. Brindes, alegrias, projetos, festa, cerimônia, família crescendo. Mais um cordão umbilical sendo cortado.


Ocorre que uns meses antes do dia D, percebemos que ele não estava feliz, estava inseguro, mas também estava decidido. Nada do que falávamos foi capaz de fazê-lo mudar de ideia.




Vou casar, Mãe! Era o desfecho de nossas conversas.


As coisas foram acontecendo como manda o figurino até a página 6 – divórcio.


Um divórcio seguido de muito sofrimento para todas as partes. Alguns reagiram com a solidão e o afastamento, outros reagiram com acusações e xingamentos e eu que era simplesmente coadjuvante?


A persistência de emoções como a tristeza e a frustração podem desencadear desequilíbrios químicos no organismo.


Quando descuidamos do nosso psicológico abrimos espaço para doenças como depressão, ansiedade, compulsões, entre outras enfermidades psíquicas, as quais podem progredir em sintomas físicos, como gastrites, enxaquecas, labirintite e bruxismo, por exemplo.


Foi descobrindo sintomas que internalizei e senti a tristeza e a decepção tomar conta do meu corpo. Aceitei a dor, mas entendi que precisava externalizar isso de alguma forma. Precisava colocar essa dor para fora!


Reconheça sua dor e pergunte:


  • O que eu estou sentindo agora?

  • O que esse sentimento está gerando em mim?

  • Eu realmente preciso dele?


Não!


Como não existe mais a possibilidade de uma conversa madura entre duas mulheres adultas e por acreditar que todas as situações desencadeadas após a separação foram tão fatais, resolvi expressar minha dor através desse blog.


Dividir um momento pessoal doloroso que acontece, eu sei e não é fácil, contudo, se manter calada frente a dor e não buscar algum conforto é nocivo. A minha intenção com esse desabafo é dar voz e “pátrio poder” as sogras!


Nós merecemos ser ouvidas, seja por respeito, por consideração ou amizade.


A você que um dia chamei de filha...


Em hipótese alguma pense que não fui solidária a sua dor ou contra a sua escolha em tentar.


Conversamos por diversas vezes sobre essa união e os obstáculos que iriam atravessar. Ainda assim, você estava certa da sua decisão.


O fim foi inevitável, a relação terminou, cheia de mágoas, dissabores, decepções.

Culpados?


Sim, é claro, os dois! Cada um à sua maneira foi minando o que antes parecia ser amor.


Também preciso registrar que não fui omissa a dor do meu filho que, de sua maneira, demonstrava seu sofrimento.


Foram inúmeras conversas sempre buscando dar algum conforto, um pouco de colo.


Entenda que levantar uma bandeira de sofrimento único, aos meus 52 anos, parece-me infantilidade, mas em respeito à sua inocência e inexperiência, acredito que a tenha erguido por não saber distinguir a sua parcela de contribuição para o fato e assumir, também, a sua responsabilidade pelo desfecho.


“A vida é curta demais para ser pequena.”


Com a inteligência e cultura que possui, tenho certeza de que compreende essa frase.


A vida passa rápido. Estamos aqui, nessa Terra, com apenas algumas décadas de vida e perdemos muitas horas irrecuperáveis “chocando” às agonias que serão esquecidas por nós e pelo mundo daqui há pouco tempo.


Não seria melhor dedicar nossas vidas as ações e sentimentos que valham a pena?


Não seria mais proveitoso e inteligente gastar nossa energia para grandes pensamentos, afetos reais e feitos duradouros?


Pois “a vida é curta demais para ser pequena!”


Na vida, todos nós, vamos enfrentar muitas coisas desagradáveis, coisas que acontecem, normalmente, por nossas próprias escolhas.


Eu sei, eu entendo, não era para ser assim. Por que isso aconteceu????


Aconteceu.


Ou a aceitamos como inevitáveis e nos ajustamos a elas ou podemos arruinar as nossas vidas (e dos outros) nos rebelando e, talvez, no final acabar tendo mais perdas do que poderíamos imaginar.


Não, não posso deixar passar em branco! Fui vítima! Preciso gritar ao mundo!

Ok, é o seu direito, mas faça-o com honestidade. Coloque-se no lugar do outro antes de atirar a pedra e assume a sua contribuição para o fato. Foi só isso que te pedi e com o seu retorno negativo e estranho fui alijada do meu falso e genuíno direito de te chamar de filha!


Já dizia um grande filósofo: “Aceite as coisas como elas são. A aceitação daquilo que acontece é o primeiro passo para superar as consequências de qualquer infortúnio.”


Uma boa dose de resignação ao orgulho ferido, ao ego machucado e a insensatez de uma verdade deveriam ser prioridades na jornada da vida de qualquer pessoa.


“Ensina-me a não chorar pelo leite derramado.”


É sabido que, evidentemente, as circunstâncias em si, não nos tornam felizes ou infelizes. É a forma como reagimos às circunstâncias que determinam nossos sentimentos.


Então, eu te digo: Prossiga!


Sua amargura e sua rebeldia deixarão marcas profundas e não servirão de mártir por muito tempo para os casos.


Valeu a pena mesmo?


Para você que um dia chamei de filha, prossiga! Seja feliz, sorria e siga em frente.

“A vida é curta demais para ser pequena!”


Deixe que aquela mulher que está aí dentro ressurja e reine!


Ninguém, ninguém, exceto você pode destrui-la.


Volte a brilhar!


Que assim seja!!!


Hoje faço as pazes comigo mesma e me destituo de toda tristeza, lamentação, decepção e sofrimento em relação a esse assunto e desejo, genuinamente, que vocês dois sejam muito felizes e que ao passar do tempo extraiam todo o aprendizado positivo do que foi experienciado e vivido.


A Sogra.

Até a próxima!!! Se cuidem!!!

Felicidades!

Mírcia Ramos

Texto revisado por Ana Elisa Carvalho de Aguiar – Professora de Língua Portuguesa

Produção Virtual: Hannah Sloboda



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