Tudo começou em um belo dia de sol.
Estávamos na piscina e o telefone tocou, eram minha filha e seu marido. Em uma fração de segundos bate aquela estranheza por receber a ligação dos dois juntos, naquele horário, não era habitual. A estranheza dá lugar à felicidade de vê-los e rapidamente toma conta do meu...
Oi amor, que bom falar com vocês, tudo bem?
A interrogação por mim proferida foi apagada pelos sorrisos estampados nos rostos refletidos na tela do meu celular e a felicidade de vê-los se transforma em um “berro de alegria”, ao entender, naquele exato momento, que o motivo da ligação tinha um propósito único.
E, em meio às risadas e ao grito, ouço de longe meu genro exclamar:
“Estamos grávidos”!
O sangue ferveu, o coração disparou e o êxtase tomou conta do meu ser!
Ser avó não era novidade para mim. Fui abençoada nessa vida, porque “pari” uma filha de alma que ao dar à luz ao seu filho, me colocou na primeira experiência vívida do que é ser avó. A Vó Mi do meu neto e amigo, João Pedro, 17 anos. Meu pequeno príncipe e ele vai me odiar por esse parágrafo (rs).
Verdade seja dita, é um sentimento puro e genuinamente especial.
A vida seguiu seu rumo e eis que me revesti de avó com o nascimento da Catarina, primeira neta do meu marido.
Uma menina linda, esperta e capixaba!!!! Com olhos atentos e um sorriso delicioso, alegrou nossas vidas.
E agora, iria vivenciar a alegria de ser avó da filha da minha filha, fechando um ciclo aos 51 anos, tendo participado de todas as formas divinas de ser avó!
Mas a tal aventura começa quando minha filha me convida a participar do parto, ao vivo e em cores!
Com o cenário de pandemia, o caos do Brasil frente ao mundo, o dólar a R$ 6,00, com um filho de 14 anos, um trabalho diário de 10 a 12 horas, fica difícil.
Não, não e não! Gritou meu lado racional. Se nada mudar não tenho condições de participar do parto da minha neta.
Sim, sim e sim, gritava meu coração. Claro que vamos! Vamos a nado, se for necessário (rs).
A Alana só viria em março de 2021. Teríamos tempo para organizar tudo, e, rumo à Califórnia!
E assim foi feito. Compramos a passagem para 02/03 à 29/05!
O tempo passou. A pandemia se estabeleceu com grande crueldade e preocupação, os EUA fecharam as fronteiras para o Brasil e a única forma de tentar entrar seria fazendo quarentena no México. Troca-se passagem, adianta-se a ida e vamos em frente.
Chegamos em Rosarito, Baya da Califórnia, em 19/02. A entrada foi sacrificante. Com o desejo da minha filha em tomar Nescau, Aveia, Café e outras iguarias do Brasil, é claro que fomos parados na Alfandega! Quem leva pó de alimentos para o México e não pensa que vai dar problema? Eu!
Duas horas para explicar, abrir item a item, pagar os impostos para, enfim, ir para casa alugada.
Afora esse pequeno contratempo, a estadia foi maravilhosa! Cidade agradável, clima gostoso, comida deliciosa e uma marguerita fantástica. E tudo mais barato do que o real!
Quinze dias de uma quarentena forçada, mas que sem dúvidas será lembrada com muito amor.
Agora era pensar na entrada aos EUA. Por opiniões locais a melhor opção seria passar pela borda de carro.
Arruma-se tudo, 06 malas e mais os instrumentos de trabalho e o carro dá partida. Em alguns momentos a esperança lutava contra o receio. Vamos passar? Sim, vamos passar. Pensamento positivo.
Não, não passamos. Munida de toda documentação inimaginável fomos barrados. Já era 06/03, Alana poderia nascer a qualquer momento e estávamos presos no México.
O jeito era tentar aéreo. Compra-se uma passagem para Los Angeles, o que chega a ser cômico se não fosse trágico (rs). De carro, em 02 horas estaríamos em San Diego. De avião seriam 08 horas de viagem e mais 03 horas de carro para se chegar ao nosso destino.
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!”, pensava diariamente.
Ops, mas precisamos fazer o exame PCR para embarcar e só temos 24 horas para resolver tudo. Minha equipe maravilhosa no Brasil resolve para mim. Obrigada, Equipe! Vamos fazer o exame, pegar o resultado em 04 horas e partimos para Tijuana para pegar o voo.
Ufa, tudo certo! Embarcamos!
Chegamos em Los Angeles, com 06 malas, vindos do Brasil com uma passadinha no México. Já estávamos preparados para a saga de Los Angeles.
Eis que por uma ajuda divina da Santa que protege as avós, nada aconteceu. Entramos com a maior facilidade.
E, nada da Alana, Graças a Deus!
A essa altura, com fuso de 06 horas, o trabalho em home office estava frenético. Administrar uma vida de itinerante com trabalho não é tarefa fácil, mas Alaninha estava vindo e essa expectativa transformava todo cansaço, preocupação e estresse em um exclamado: UOHHHHH. Minha neta está chegando! Ela me esperou pisar em solo americano.
Os dias passaram rápido, arrumações, últimos detalhes, últimas consultas e o grande dia!
Só que não!
Minha filha e meu genro, por conta de seu trabalho, residem em um lindo RV (trailer), mas nem sempre conseguem parque no local desejado. Com isso, estávamos em uma cidade, onde seria o parto da Alana, mas precisávamos ir para a outra. Como a data provável era dia 19/03 e todas as apostas, inclusive a minha, era que passaria a data, fomos para Ventura, dia 15/03. Rhaíssa precisava buscar os apetrechos da Alana e a pretensão era voltar a Huntington dia 17/03.
Todavia, na madrugada do dia 16/03, ou seja, 05 horas que havíamos chegado, Alana resolve nascer. A bolsa estourou! Foi aquela correria!
Retorno a Huntington a 01 hora da manhã, com contrações apartadas e aquele silêncio ensurdecedor gritando – está chegando a hora!
A Doula (ajudante de parto) vem ao nosso auxílio na residência dos pais do Blake, a fim de preparar e orientar a Rhaíssa para a hora do parto. Contrações, gemidas, perguntas, movimentam a madrugada e a cada passar de hora a torcida pela tão sonhada dilatação.
Meu Deus! Deu tudo certo!!! O trabalho de parto foi tranquilo, palavras da minha filha e as 10:50 ouvimos o chorinho dela, nasce Alana!
Não tenho palavras para descrever o quão bonito foi participar desse momento. Ver a minha filha dar à luz! Percebi que no parto nascem duas vidas entrelaçadas e no mesmo segundo: Nasce a mãe e nasce a filha!
O olhar, o aconchego nos braços, o choque de realidade, o alívio circulam o ambiente tangibilizando o acontecimento.
O ar dá vazão ao: E agora?
Uma troca rápida de olhares e a fala muda – aconteceu! E eu estava lá para presenciar esse momento indescritível!
Ser avó!
Parabéns a todos os avós! Minha singela homenagem pelo dia de hoje, na qual faço parte integrante com gratidão e orgulho.
Ser avó, realmente, é um sentimento completamente novo. Naquele momento mágico do choramingar da minha neta floresceu uma gama de sentimentos contraditórios, como felicidade e preocupação. Uma mistura de alegria, amor, medo, mistérios e responsabilidade.
O amor é instantâneo e incontável. A alegria pela chegada da Alana extremamente saudável e pela vitória da minha filha que enfrentou seus medos e trouxe ao mundo essa pequena menina.
Rhaíssa resolveu dar à luz em um Birth Center, uma clínica especializada em partos, mas que não possui todo o aparato hospitalar. O parto seria natural, sem anestesias ou medicamentos para dor. O pré-natal não indicara nenhum risco, mas lá no fundo, uma preocupação relutante surgia em nossas mentes.
Mistérios...em fração de segundos a minha vida passa como se fosse um filme. Lembranças adormecidas e esquecidas aparecem sem pedir licença. O impacto de um novo agora. E agora? Milhões de perguntas surgem à mente como se eu tivesse o poder de respondê-las, escolhê-las ou eliminá-las.
E a responsabilidade! Responsabilidade de ser avó! De orientar e ajudar minha filha, de ser presente para minha neta que reside nos EUA, de melhorar a língua estrangeira, de conseguir organizar uma visita anual, de realizar que o meu legado está crescendo! Que responsabilidade!
Com Alana em meus braços, todas as contradições dão espaço para o anestesiamento de felicidade.
Nesse momento descubro um novo universo dentro de mim, cheio de lágrimas e sorrisos. É uma nova forma de amar, um amor extraordinário, único e completamente diferente. É mágico!
Mas, ser avó, também, não é tarefa fácil, como dizem (rs).
Nesses três meses de aventura aprendi mais sobre a vida do que nos últimos 05 anos, pelo menos.
Vamos somar tudo: pandemia, crise econômica, aprendizado no home office, barreiras fechadas, filho menor de idade que iria ficar no Brasil, quarentena, risco de não entrar, nascimento da primeira filha da minha filha, parto natural, Trailler, 06 malas, 14 camas ao total e ser avó!
Brincadeiras à parte, sim, essa experiência foi um aprendizado enorme.
Foram muitas divergências de opiniões. Sobre a clínica e o hospital, sobre vacinar ou não vacinar, sobre dar banho ou não dar banho, sobre dormir ou não dormir, sobre ter ou não experiência, sobre dar ou não mamadeira, sobre beber ou não beber, sobre soluços e “curas” para soluços (kkkk), dar presente ou não dar presente sem permissão, dentre tantas.
Todas essas divergências foram necessárias para entender que a minha filha agora, é mãe! E que mãe incrível ela está sendo! Uma mãe amável, paciente, preocupada e diligente.
Então, entendi que ser avó é respeitar a vez e a voz dela!
É ser coadjuvante de uma nova história que surgiu da minha história e isso é lindo!
Claro que usar a experiência pode ajudar, mas também preciso dar espaço para as mudanças. Descobri que existem novidades que fazem a vida das mamães e bebês bem mais práticas.
Aprendi que a experiência é tão importante quanto a inovação. Que o caminho em união é a forma mais democrática da harmonia. E, essa ligação de sinceridade e amor, Rhaíssa e eu construímos durante toda nossa história de vida e, agora, através de uma conversa franca, falando abertamente sobre a nova situação, nos fez mais unidas. Ouvir com o coração e ser paciente com a outra era o caminho que deveríamos cruzar juntas nessa aventura de ser mãe e ser avó, ou seja, ser mãe da mãe (rs).
Era um momento pleno e não poderia esquecer de que os pais também estavam em êxtase vivendo momentos únicos de ansiedade, preocupação e amor. Saber esperar e compreender este momento pacientemente era um desafio para mim.
O tempo passaria rápido. Seriam poucos momentos com minha neta. Como conciliar essa explosão de sentimentos e de vontades sem ultrapassar o espaço de avó?
Trilhamos esse caminho juntas e conseguimos! Após esses 03 meses, vivenciando experiências únicas e aprendizados novos, retorno ao Brasil com o entendimento claro de que Alana é minha neta e não minha filha. Claro que, como toda boa avó coruja, não vou ter medo de intervir quando minha ajuda for solicitada, mas procurando participar dentro do meu limite de avó.
Então, para mim é isso. Os netinhos são para serem adorados, abraçados, mimados e amados (kkkk). Posso me fazer valer da frase que diz: Avó só estraga!’ kkkkkk.
Parabéns a todas as vovós!!!!
Até a próxima!!! Se cuidem!!!
Felicidades!
Mírcia Ramos
Texto revisado por Ana Elisa Carvalho de Aguiar – Professora de Língua Portuguesa
Produção Virtual: Hannah Sloboda
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